ÉTICA: A MORADA DO SER
Ellen Maianne Santos Melo Ramalho 1
O termo ética, conhecido atualmente,
deve-se a tradição grega, pois o termos ética é derivado da
palavra grega Ethos. Ethos significa: morada, modo de ser,
jeito de ser, caráter. Desta forma, quando os gregos se referiam à
ética, não apenas falavam de princípios que norteiam nosso
comportamento na sociedade em que vivemos, mas, de forma mais ampla,
com a profundidade filosófica própria aos gregos, queriam nos levar
a pensar na relação entre ser e estar. Ou seja, na
relação constituinte da existência humana, a relação entre tempo
e espaço. Todo aquele que é no tempo, que existe, existe em algum
espaço. Ao mesmo tempo que constituímos este espaço, ele nos
constitui. Daí a importância de pensar em ética, enquanto sendo a
morada humana, pois entenderemos o homem em sua constituição
fundante, em sua existência no espaço.
Para ilustrar a ideia grega que
entende a ética enquanto morada humana, devemos pensar na imagem de
uma casa. E, é claro, filosofar sobre isso, para ampliar seu sentido
e alargar nossa compreensão. Uma casa não se restringe apenas aos
seus aspectos materiais. Não são apenas as quatro paredes e o teto
(ou demais estruturas físicas) que fazem da casa, sua casa. A casa é
uma morada existencial, o que excede a simples caracterização
material. Não é apenas a parte física e externa que a torna sua
casa, mas quando pensamos na nossa casa, a ideia que nos toma,
imediatamente, é a casa vista a partir de dentro. É assim que o ser
humano se move: o que nos impele à ação, vem de dentro. De acordo
com Edgar Morin, no livro os Sete saberes necessários à educação
do futuro,”as vias de entrada e de saída do sistema
neurocerebral, que colocam o organismo em conexão com o mundo
exterior, representam apenas 2% do conjunto, enquanto 98% se referem
ao funcionamento interno” (MORIN, 2000, p. 21). Daí, podemos
entender a força do nosso interior e, de como o nosso interior não
é apenas uma transposição do mundo exterior, não estando o
primeiro, condicionado ao último.
Assim, entendemos que a abordagem
existencial (interior) transcende a abordagem material, no
entendimento do que significa morada. A nossa casa, vista do interior
não são apenas paredes, telhas... Também não é apenas um
conjunto de objetos que a decora e preenche os espaços vazios, de
forma funcional. Mas, vendo uma casa enquanto morada, nos remetemos a
uma experiência originária que torna os dados irredutíveis.
Pensamos no conjunto de relações que estabelecemos nesta morada
pois, é nesta que vivemos e convivemos. Nos autoconstituimos e
construímos relações: com as coisas e, principalmente com os
outros. Nossa morada é um lugar de intimidade, onde nos escondemos e
nos encontramos.
Quem, que já morou em alguma casa,
tendo a oportunidade de voltar a mesma, em uma situação qualquer,
não foi tomado pelas lembranças de um modo de ser, do tempo em que
viveu naquele espaço? Assim, pensar em ética enquanto morada é
pensarmos sobre o nosso modo de ser no mundo. Não um modo de ser
solitário, mas sim, solidário. Uma vez que o mundo é a grande casa
comum de todos os homens. Que é composto por um sem número de
‘pequenas’ casas, cada uma com seu jeito de ser. As casas estão
dentro de uma cidade, que está dentro de um país que faz parte do
mundo. Desta forma, o jeito de ser de cada morada particular está
relacionado a grande morada, a casa comum dos habitantes do planeta:
a Terra
Como toda casa precisa ser arrumada e
mantida, quando falamos em ética envolvemos diversas temáticas
como, política, economia e ecologia, temas concernentes a
organização e manutenção do meio em que se vive: o meio ambiente.
Desta forma, pensar em ética é pensar em meio-ambiente. Lembrando
Leonardo Boff, o meio em que vivemos deve ser um lugar bom para morar
e demorar.
Distinções entre Ética e Moral
E ético é tudo aquilo que se faz
para morar bem. O morar bem implica uma teoria e uma prática. Pois a
teoria orienta a prática. É esta dupla faceta da morada humana que
nos faz distinguir ética de moral.
A ética é parte da filosofia.
Considera concepções de fundo acerca da vida, do universo, do ser
humano e de seu destino, estatui princípios e valores que orientam
pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por
princípios e convicções. Dizemos, então, que tem caráter e boa
índole.
A moral é parte da vida concreta.
Trata da prática real das pessoas que se expressam por costumes,
hábitos e valores culturalmente estabelecidos. Uma pessoal é moral
quando age em conformidade com os costumes e valores consagrados.
Estes podem, eventualmente, ser questionados, pela ética.
Uma pessoa pode ser moral (segue os
costumes até por conveniência) mas não necessariamente ética
(obedece à convicções e princípios).
Quadro das Virtudes Morais
Sentimento
ou paixão
(por
natureza)
|
Situação
em que o sentimento ou paixão são suscitados
(por
contingência)
|
Vício
(excesso)
(por
deliberação e escolha)
|
Vício
(falta)
(por
deliberação e escolha)
|
Virtude
(justo meio)
(por
deliberação e escolha)
|
Prazeres
|
Tocar,
ter, ingerir
|
Libertinagem
|
Insensibilidade
|
Temperança
|
Medo
|
Perigo,
dor
|
Covardia
|
Temeridade
|
Coragem
|
Confiança
|
Perigo,
dor
|
Temeridade
|
Covardia
|
Coragem
|
Riqueza
|
Dinheiro,
bens
|
Prodigialidade
|
Avareza
|
Liberalidade
|
Fama
|
Opinião
alheia
|
Vaidade
|
Humildade
|
Magnificência
|
Honra
|
Opinião
alheia
|
Vulgaridade
|
Vileza
|
Respeito
próprio
|
Cólera
|
Relação
com os outros
|
Irascibilidade
|
Indiferença
|
Gentileza
|
Convívio
|
Relação
com os outros
|
Zombaria
|
Grosseria
|
Agudeza
de espírito
|
Conceder
prazer
|
Relação
com o próximo
|
Condescendência
|
Tédio
|
Amizade
|
Vergonha
|
Relação
de si com os outros
|
Sem-vergonhice
|
Timidez
|
Modéstia
|
Sobre
a boa sorte de alguém
|
Relação
dos outros consigo
|
Inveja
|
Malevolência
|
Justa
apreciação
|
Sobre
a me sorte de alguém
|
Relação
dos outros consigo
|
Malevolência
|
Inveja
|
Justa
indignação
|
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOFF,
Leonardo. Ética e moral: a busca de fundamentos. Petrópoles,
RJ: Vozes, 2003.
CHAUÍ,
Marilena. Introdução à história da filosofia: dos
pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
MORIN,
Edgar. Os Sete saberes necessários à educação do futuro. São
Paulo: Cortez, 2000.
1
Mestranda em Educação, Especialista em Filosofia: Epistemologia e
Fenomenologia, Professora de Filosofia do Instituto Federal de
Alagoas -IFAL, Campus Arapiraca
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